terça-feira, 10 de novembro de 2009

Psoríase, mais que uma doença de pele

Esta é uma das doenças que mais afecta a qualidade de vida e o bem-estar psicológico do doente.

Independentemente da abordagem teórica, muitos autores consideram a pele como o primeiro contacto do indivíduo com o meio. Isto leva a considerar que o corpo, seja são ou doente, é sempre um corpo em relação, contido por emoções e articulado por movimentos afectivos. Partindo desta posição, podemos ponderar a relação entre as doenças dermatológicas e o impacto psicossocial e físico entre o indivíduo afectado e o seu grupo relacional. Em muitos casos, não há possibilidade de esconder ou dissimular os problemas dermatológicos. É possível, dependendo do tipo de enfermidade, induzir sentimentos de repúdio e de nojo por parte dos outros, o que acarreta prejuízos nos contactos (físicos ou não) no trabalho, nas relações sociais e nas acções mais simples como vestir-se, tomar banho ou simplesmente olhar-se ao espelho.

Se considerarmos a pele como o mais extenso órgão dos sentidos, e o primeiro a tornar-se funcional em todas as espécies, podemos referir que, depois do cérebro, talvez seja o órgão mais importante de todo o sistema de órgãos (recentemente a pele passou a ser considerada componente do sistema imunitário). Deste modo, percebe-se a importância que a pele tem no contacto com a construção de todo o factor psicológico do indivíduo e não apenas segundo uma visão de saúde física.

O que é?

A psoríase é uma doença inflamatória da pele, benigna, crónica, genética e que precisa de factores desencadeantes para o seu aparecimento ou agravamento, motivados pela influência do meio, alguns medicamentos ou factores psicológicos (como o stress). Caracteriza-se pelo aparecimento de lesões inflamatórias avermelhadas na pele. O tipo mais comum é a psoríase em placas, ou vulgar. Pesquisas recentes relacionam a psoríase a uma desordem no sistema imunológico. Porém, o mais comum é associá-la a uma componente genética. O facto de ser geneticamente determinada não implica que a hereditariedade de pais para filhos seja obrigatória. Contudo, verifica-se uma maior probabilidade de a doença surgir em pessoas com familiares portadores da mesma.


Esta doença afecta cerca de 100 milhões de pessoas em todo o mundo, ou seja, entre 2 a 3% da população mundial. Em Portugal afecta aproximadamente 250 mil pessoas, isto é, 1 a 2% da população. Desta forma, a psoríase deve ser encarada na mesma perspectiva que qualquer outra doença crónica, como a diabetes ou hipertensão. No entanto, ainda não é vista como tal.


Atinge de igual modo homens e mulheres, na faixa etária entre os 20 e 40 anos. Mas pode surgir em qualquer fase da vida e com grande frequência em pessoas da pele branca, sendo raras em negros, índios, asiáticos, e não existe entre esquimós. Cerca de 10% dos doentes desenvolvem artrite psoriática, o que representa dor e deformidade, por vezes bastante debilitante, de pequenas (mãos e pés) ou grandes (membros e coluna) articulações.


O conhecimento geral sobre a psoríase ainda é reduzido, existindo muitos doentes que não identificam a doença que têm, nem tão pouco estão cientes dos cuidados a ter. A associação PSOPortugal (www.psoportugal.com), reconhecida pela Federação Internacional das Associações de Psoríase – IFPA e pela Federação Europeia – Europso) existe para esclarecer e sensibilizar a sociedade para a discriminação social e profissional de que é alvo quem sofre de psoríase.

Qual a causa e como se manifesta?

As causas exactas da doença ainda não estão totalmente esclarecidas. No entanto, todas as pesquisas científicas revelam que a hereditariedade desempenha um papel importante. A questão emocional também actua como importante factor desencadeante e agravador da psoríase em indivíduos com predisposição genética para a doença.


Manifesta-se por uma inflamação nas células da pele chamadas quer atonócitos, provocando o aumento exagerado na sua produção, que se vai acumulando na superfície formando placas de escamação avermelhadas, esbranquiçadas ou prateadas. O sistema de defesa local é activado como se a região cutânea tivesse sido agredida. Em consequência são libertadas as citocinas, substâncias mediadoras da inflamação que aceleram o ritmo de proliferação das células. Estas levam 21 a 28 dias a substituírem-se, na psoríase o processo demora apenas dois a quatro dias. Tanto as células mortas como as vivas acumulam-se na superfície da pele devido à aceleração no processo de substituição, o que origina crostas escamosas e avermelhadas, cobertas de escamas esbranquiçadas que se desfazem com facilidade. Poderá ainda causar uma sensação aguda de comichão e ardor em qualquer parte do corpo, embora seja mais frequente surgir nos cotovelos, joelhos, zona inferior das costas e no couro cabeludo.


Esta condição não é contagiosa e a maioria das pessoas apresenta apenas pequenas zonas do corpo afectadas. A gravidade é variável.

É contagiosa?

Não, a psoríase não é uma doença contagiosa, logo, não há necessidade de evitar o contacto físico com outras pessoas. É uma das doenças que mais afecta a qualidade de vida e o bem-estar psicológico dos doentes. Muitas vezes, estes têm a sensação de que provocam repulsa, que um contacto mais íntimo se torna desagradável devido às placas escamosas, rugosas e ásperas. Se têm lesões no couro cabeludo que invadem a região frontal ou as unhas, torna-se ainda pior. Como afecta a pele, órgão externo e visível, esta doença tem efeitos psicológicos não negligenciáveis, no sentido de diminuição ou perda da auto-estima, podendo muitas vezes causar depressão. E como cada vez mais a forma como os indivíduos se vêem a si mesmos está relacionada com a valorização pessoal numa sociedade que é, muitas vezes, mais sensível à aparência exterior que a características da personalidade, os doentes de psoríase são discriminados socialmente e, nos casos moderados a graves, a sua vida é radicalmente afectada: isolam-se, entrando em depressão, por vezes terminando em suicídio.

Como é diagnosticada?

O diagnóstico resume-se à observação clínica da pele, unhas e couro cabeludo do paciente. Porém, em situações mais graves, poderá haver a necessidade de uma biopsia de pele, que ajuda a esclarecer se a lesão é de psoríase ou não. Na maioria dos casos, a avaliação dermatológica é suficiente para o diagnóstico da enfermidade.


Paulo Flambó
Psicólogo clínico

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